PEDRO COUTINHO

Ansiedade normal versus patológica: quando procurar ajuda?

A ansiedade é uma resposta emocional normal até certo ponto e que todos já experienciamos. Sim, não há uma única pessoa no mundo que nunca tenha experienciado algum grau de ansiedade ao longo da sua vida.

Aquele frio na barriga que sentiste quando esperavas o resultado de um exame era provavelmente ansiedade. Aquela inquietação enquanto aguardavas notícias de um familiar doente era provavelmente ansiedade. Aquela preocupação que não te deixou dormir, o receio de falhar ou as alterações de apetite, antes de um exame ou de trabalho importante, também eram provavelmente ansiedade.

A ansiedade pode surgir em situações nos preocupam, de incerteza, perigo ou stress na nossa vida. É uma resposta emocional natural do nosso corpo que nos permite que quando confrontados com estas situações, sejamos capazes de agir, de nos proteger e/ou de lidarmos com elas.

Por exemplo, antes de uma reunião importante, a ansiedade pode colocar-nos mais alerta, aumentar o nosso foco e concentração, diminuir a probabilidade de erro e contribuir para melhores resultados.

Nestas situações, a ansiedade surge com o intuito de nos ajudar. Não é nossa inimiga.
É uma ansiedade temporária, não limitativa e que desaparece rapidamente quando a situação que está a gerar ansiedade termina.  É importante que todos percebam, que a até certo ponto a ansiedade é benéfica, útil, faz parte das nossas vidas e não é possível eliminá-la.
A ansiedade aparece em infinitas situações nas nossas vidas em níveis adaptativos. A ansiedade está ali para nos ajudar, motivar, alertar, proteger, … a cumprir a sua função! E ainda bem!

No entanto, a ansiedade pode tornar-se patológica, excessiva, desadaptativa … um problema! Mas quando?

Quando o mecanismo adaptativo que regula a ansiedade “avaria”, esta pode surgir em níveis excessivos, sem motivo aparente, em situações que não representam um perigo real, prolongar-se no tempo, causar sofrimento marcado e/ou interferir significativamente na dia-a-dia da pessoa.
Pode interferir no desempenho do trabalho, nos relacionamentos interpessoais, no descanso ou até nas atividades que lhe dão prazer. A ansiedade pode limitar tanto a vida de uma pessoa ao ponto de não se sentir capaz de sair de casa.

Se pegarmos no exemplo anterior da reunião de trabalho, a ansiedade passa a ser um problema quando:

  1. É tão intensa que ao invés de ser protetora vai prejudicar e limitar os nossos comportamentos
    Exemplo. A pessoa sente-se tão ansiosa com a reunião de trabalho que não consegue prepará-la, não consegue concentrar-se, sente-se paralisada e pode até acabar por faltar à reunião
  2. Quando, mesmo que em níveis moderados, se prolonga no tempo e já não tem sequer relação com o que está a acontecer

     

    Exemplo. A pessoa sente-se ansiosa muito antes da reunião. A reunião termina e aparentemente não há motivos para estar ansiosa, mas continua ansiosa.

Nestes últimos exemplos, muito provavelmente estamos perante níveis de ansiedade excessivos/patológicos ou mesmo perante perturbação da ansiedade, que por outras palavras é quando a ansiedade se torna uma doença. Em ambos os casos, estes níveis de ansiedade são prejudiciais e necessitam de tratamento especializado, nomeadamente, acompanhamento psicológico e/ou tratamento médico com psicofármacos. Os únicos validados no tratamento da ansiedade!

Espero que agora seja mais fácil perceber a diferença entre ansiedade normal e excessiva, assim como quando procurar ajuda!