Os sintomas da ansiedade no coração: quando o medo se sente no corpo
Sentir o coração a bater rápido, um aperto no peito ou palpitações intensas é assustador. Muitas pessoas que sofrem de ansiedade descrevem exatamente esta sensação: “o coração parece que vai sair do peito” ou “de repente começa a acelerar sem motivo aparente”. O primeiro pensamento é quase sempre o mesmo: “estou a ter um ataque cardíaco” ou “vou morrer”.
Na verdade, os sintomas cardíacos são uma das manifestações físicas mais comuns da ansiedade. Embora possam ser muito desconfortáveis e assustadores, na maioria das vezes não indicam um problema no coração.
Compreenderes o que acontece no teu corpo é o primeiro passo para reduzires o medo que sentes desses sintomas e sentires-te mais preparado(a) para quando isso voltar a acontecer.
Porque é que a ansiedade afeta o coração
Quem vive com ansiedade tem um “sistema de alarme” que se ativa com facilidade. O cérebro, ao interpretar algo como potencialmente ameaçador (mesmo que o perigo não seja real) envia sinais ao corpo para reagir.
Em vez de distinguir o que é perigoso do que não é, o sistema ativa-se em momentos em que não é necessário: antes de uma apresentação, de uma reunião, de sair de casa ou até quando estás simplesmente sentado(a) no sofá.
Assim, o corpo liberta substâncias que aumentam o ritmo cardíaco e o preparam para agir, mesmo quando não há perigo.
Durante um episódio de ansiedade, é comum sentires:
– Palpitações ou batimentos rápidos e fortes
– Aperto ou desconforto no peito
– Sensação de batimentos irregulares
– Falta de ar ou respiração acelerada
– Tonturas ou sensação de desmaio
Sim, é difícil acreditar, mas estes sintomas resultam de uma reação do teu corpo à ansiedade, e não de um problema no coração.
Quando o medo reforça os sintomas
Como os sintomas físicos são reais, intensos e assustadores, é comum ires às urgências convencido(a) de que algo grave está a acontecer. E está tudo bem: é sempre importante descartar causas médicas.
Mas quando os exames estão normais e o medo permanece, é fácil entrar num ciclo de vigilância constante. Começas a reparar em cada batimento, em cada sensação diferente no peito, e quanto mais atenção dás ao corpo, mais ansiedade sentes.
Isto acontece porque a mente e o corpo estão sempre em comunicação. Quando pensas “algo está errado”, o cérebro entende essa ideia como uma ameaça real e prepara o corpo para reagir. Mesmo sem perigo, o corpo responde como se ele existisse: o coração acelera, a respiração muda e os músculos ficam tensos. O medo dos sintomas alimenta-os, e os sintomas alimentam o medo.
É um ciclo difícil, mas possível de quebrar. O primeiro passo é perceber que o teu corpo está apenas a reagir ao que a tua mente acredita ser uma ameaça.
O que podes fazer
- Reconhece o padrão
Quando sentires o coração a acelerar, lembra-te: “isto é o meu corpo em alerta, não um problema no coração”. Se já foste avaliado(a) por um médico e as causas físicas foram descartadas, tenta substituir o pensamento “vou ter um enfarte” por algo mais realista, como “o meu corpo está a reagir à ansiedade, mas isto vai passar”. Este tipo de pensamento mais adaptativo ajuda o cérebro a sair do modo de alarme e reduz a intensidade dos sintomas.
- Respira devagar
Inspira pelo nariz durante 5 segundos, segura 3 e expira lentamente pela boca. A respiração é uma das ferramentas mais eficazes para diminuir os sintomas físicos da ansiedade.
- Reduz o consumo de estimulantes
A cafeína e as bebidas energéticas podem aumentar o ritmo cardíaco e intensificar as palpitações.
- Mantém-te ativo(a)
Caminhar, fazer exercício moderado ou alongamentos ajuda a regular o ritmo cardíaco e a libertar a ansiedade acumulada, diminuindo a probabilidade destes sintomas aparecerem.
- Procura apoio psicológico
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais eficazes para compreender e reestruturar pensamentos de medo associados aos sintomas físicos.
Quando procurar ajuda médica
Se for a primeira vez que sentes estes sintomas, se forem muito intensos ou acompanhados de dor forte no peito, falta de ar súbita, desmaio ou suores frios, deves procurar ajuda médica imediatamente.
Mas se já confirmaste com o teu médico que o coração está saudável e os sintomas continuam, e se reconheces outros sinais de ansiedade, é provável que ela esteja na origem do problema.
Para terminar:
Os sintomas cardíacos da ansiedade podem ser intensos e assustadores. É um processo difícil aceitar que tudo o que sentes é “só” ansiedade, mas quando aprendes a reconhecer o que está a acontecer, o medo perde força e o corpo também aprende a acalmar-se. E se precisares de ajuda nesse caminho, na nossa clínica tens uma equipa com quase 40 profissionais pronta para te acompanhar com segurança e empatia.
O foco do tratamento é não só ajudar-te a diminuir estes sintomas, mas também perceber o que os está a gerar e a manter.
Se também sentes outros sintomas, como tonturas ou alterações digestivas associadas à ansiedade, consulta o nosso blog, onde explico cada um deles em detalhe.
Com carinho,
Pedro Coutinho
